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VICENTE PALLOTTI E SEU MÉDOTO DE ORAÇÃO
O desejo de transformar-se no amor infinito de Deus.
Pallotti tinha dentro de si um grande desejo: praticar todas as obras possíveis de maneira infinita, em número e perfeição (OOCC XIII, 112).
Ele procurava manter-se vigilante para conservar-se sempre no temor de Deus, pois ele tinha desconfiança das maquinações internas do ser humano por causa do pecado.
São Tiago diz: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Portanto, sejam submissos a Deus; resistam ao diabo, e este fugirá de vocês” (Tg 4,6-7).
Mediante a iluminação da Palavra, Pallotti procurou ver a oração como meio de aspirar à força divina, por isso diz: “com Deus, tudo posso”!
A sua oração era sempre em clima de tensão entre o “nada” e o “tudo”. Por ele, nada podia, mas com Deus podia tudo. Ele também tinha sempre em mente a certeza de que há uma infinita distância entre o Criador e a criatura. Por causa disso, vivia, ao mesmo tempo, em infinito temor e em infinito amor. Contudo, essa tensão e esse movimento são fruto da própria natureza do ser humano, principalmente de Deus, criador da natureza humana. É ele quem move essa corrente, em ir e vir de um polo a outro .
Pallotti, em suas pregações, gostava de refletir sobre a semelhança de Deus e sobre o fato de sermos membros de Cristo. Ele explicava o grande benefício que Deus fez aos seres humanos, dando-lhes a elevada nobreza de filhos de Deus e de irmãos de Jesus Cristo .
Essa doutrina da alma imagem e semelhança de Deus conduziu-o à descoberta de Deus amor e misericórdia infinita. Afinal, o que precisa fazer esse homem como imagem de Deus? Segundo ele, desde o início, o homem criou dentro de si uma oposição a Deus. Entretanto, é tão evidente como o sol que, se a criatura não tivesse colocado impedimento, Deus se difundiria sem medida, já que ele, de sua parte, não põe medidas: “sua medida é a caridade sem medidas” .
Deus, o infinito, quer dar-se, de alguma forma, sem medida, e o homem o impede, opõe-se precisamente a essa comunicação amorosa. Age, assim, o ser humano contra a própria natureza à qual foi dado ser imagem e filha de Deus. Assim, inferior ao animal, o ser humano se precipita no pecado. Em Deus o homem devia ser luz eterna. Ele se insurge, porém. O ser humano, mesmo na beleza que lhe quis Deus, é como um nada, quando comparado ao infinito. Na rebelião contra Deus, ele afunda, de certo modo, “infinitamente no puro nada” .
E, contudo, Deus chamou o homem para a glória e para a mais alta grandeza. “Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus”, diz Agostinho. E Ambrósio seu mestre: “O Verbo se fez carne para que a carne se fizesse Deus” .
Para Pallotti, essas duas frases dos Padres são o resultado mais conciso, profundo e definitivo de todo o conhecimento de Deus e do homem. O santo escuta a voz do infinito: “Não serei eu mudado em ti, tu é que serás mudado em mim” .
Em toda meditação de Pallotti estão presentes o homem plenamente animalizado e o homem plenamente divinizado (cf. OOCC X, 462-463).
Eu sou viva imagem vossa! Mas, por minha horrendíssima ingratidão, oh, quanto me deformei! Até que ponto me tornei réu de inumeráveis pecados, que cometi e levei a cometer! Não tirei proveito do amor infinito e da misericórdia infinita com que me tendes criado à vossa imagem e semelhança. Pelo contrário, agi em oposição a esse amor e misericórdia. Mereci, por isso, todas as penas do tempo e da eternidade, tantas vezes multiplicadas, quantos são os pecados que cometi e fiz cometer. Tenho firme confiança e creio com certeza que, pelos méritos infinitos de Jesus Cristo, pelos méritos e intercessão de Maria Santíssima e de todos os anjos e santos, me concedereis a perfeita contrição de todos os meus pecados e a graça de usar todos os meios para ser justo para convosco – ó bondade infinita! – para com o meu próximo e para comigo mesmo, a fim de que, na hora da minha morte, me encontre preparado a ser semelhante a vós na glória, por toda a eternidade .
Contemplando o amor que vem do alto, Pallotti sente que a misericórdia infinita de Deus preserva o ser humano de ser totalmente destruído por causa do pecado:
Quando reina Deus, ele não esmaga o ego humano. Expor o finito à mercê do infinito implica deixar penetrar em si, sem tropeços, o ardor original, o amor de Deus de Cristo e de Maria. Um amor que impele para a força, que quer continuar a fluir, a se expandir, através do homem divinizado, até a própria criatura inanimada. Mas um amor que retorna e reconduz a Deus, ao Deus pessoal. As verdades da fé, que Pallotti nos faz meditar, são apenas portas através das quais ele leva a balbuciar um muito respeitoso e também muito confiante ‘Tu’, com o amoroso Abba ao Pai. Para início de reflexão, só há um objetivo: inquietar o coração e o sentimento e despertar a vontade. Mas não tanto a vontade de fazer ou deixar de fazer algo, mas a vontade de querer amar Deus com um coração apaixonado .
Com o horror de quem já viu o juízo sobre o mundo, Pallotti, por assim dizer, expulsa o homem oposto ao divino, por isso, deve ser destruída e aniquilada toda a sua vida (cf. OOCC X, 476), para que toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e a vida da Santíssima Trindade, da Virgem Maria e de todos os anjos e santos sejam eternamente a sua própria vida .
Devo, por isso, aspirar, em tudo e sempre, à pureza por essência e preciso usar de todos os meios para viver em possível pureza total da alma e do corpo. Para tal, disponho da arma poderosíssima da santa oração, a vocal e a mental, a fim de afastar, da minha mente, todo pensamento impuro e, do meu coração, todo afeto desordenado. Para vencer todas as tentações impuras, para refrear todas as perversas e brutais paixões, preciso buscar forças na freqüência dos santos sacramentos. Devo tutelar cuidadosamente todos os sentimentos do corpo, fugir aos perigos, às ocasiões e à familiaridade de pessoas que possam me levar a perder ou a enuviar o preciosíssimo lírio da pureza da alma e do corpo. Aliás, para aperfeiçoar-me sempre mais na santa pureza, devo agir e viver de modo e com tal exercício de mortificação da carne, dos vícios e das concupiscências perversas, que todos os pensamentos sejam pureza; os afetos do coração, pureza; as palavras, as obras e a conduta da minha vida, pureza. Porque, na verdade, pela divina misericórdia, sou uma viva imagem da pureza por essência. Se me comportasse diversamente, agiria em oposição à natureza da minha alma, que é viva imagem da pureza por essência .
No seu único livro: “Deus, o amor infinito”, escrito com a finalidade de ajudar as pessoas a perscrutarem os mistérios de Deus através da meditação dos artigos da fé contidos no Símbolo dos Apóstolos, Pallotti queria que os fiéis compreendessem o amor infinito de Deus e desta forma pudessem caminhar para a união com ele.
Para Pallotti, toda a criação está a serviço desse conhecimento. Todas as coisas criadas são a linguagem do amor e da misericórdia infinita de Deus. Tudo leva o homem a Deus e tudo deve estar a serviço do crescimento do Reino do santo amor de Deus .
De acordo com Pallotti, amar a Deus é acolher o seu amor, saboreá-lo interiormente, deixar-se conduzir por ele através do vasto campo da sua divina vontade. Quando pronuncia o nome de Deus sempre acrescenta ‘amor’, e como que para saboreá-la por mais tempo, se põe a repeti-la: “Ah, meu Deus! Meu Pai! Amor! Amor! Amor inefável! Amor infinito! Amor eterno! Amor incompreensível...
Tal repetição está espalhada em todo o seu livreto como que a expressar sua ternura ao amor infinito de Deus, pois fora dele não há verdadeira consolação. A única fonte de nossa esperança é o amor de Deus. A acolhida do amor de Deus dispõe o fiel para a transformação. Sem querer queimar as etapas do processo espiritual, o desejo de Pallotti era de mergulhar no amor de Deus e de chegar a ser transformado nele . Pois a alma humana é o espaço propício do Reino do Amor. Ela é, lá onde Deus estabelece a sua morada, a cabeça do homem interior. Dessa forma, ela é capaz do infinito, do eterno, do imenso, do incompreensível .
O grande segredo descoberto por Pallotti para se chegar ao grau mais alto de perfeição é o de procurar um acordo entre o crescimento humano e espiritual, ou seja, de um lado, a presença de Deus em nós, e de outro, fazer com que a imagem de Deus, que somos nós, reflita realmente a pessoa do Pai eterno, do seu Filho Jesus Cristo, do Espírito Santo e fazer com que nós sejamos reflexos do poder infinito de Deus, da sua sabedoria infinita, da sua misericórdia, da sua pureza e da sua santidade; reflexos da sua infinitude, da sua eternidade, da sua imensidão e da sua incompreensibilidade .
Este modo de pensar de Pallotti está em consonância com o pensamento de São Gregório de Nissa, pois para ele a essência da alma é uma participação de Deus sempre em ascensão, jamais concluída. Se a liberdade se recusasse a esse crescimento, seria porque nela pressionando a alma para que renegue a própria natureza, está presente o mal.
Pallotti detesta o mal. Aliás, ele travou ao longo de sua vida uma guerra contra todo tipo de mal que assola a vida humana. Contudo, para que ele pudesse ter sucesso nesta sua batalha, ele agarrou-se aos méritos de Jesus Cristo e aos de toda a corte celeste, com a certeza de que Deus, que entregou seu próprio Filho para a salvação dos homens, não lhe recusará a graça de viver um amor tão ardente quanto o dele. Deus até transformará a alma completamente em seu santo amor.
Portanto, a palavra-chave de toda espiritualidade de Pallotti é: corresponder com amor ao amor infinito. O amor é como uma conseqüência da percepção da imagem de Deus no homem. Essa disposição faz com que a imagem do amor infinito de Deus passe da ordem do ser à ordem do agir e obriga o homem a levar uma vida de amor, a fugir do pecado que deforma essa imagem. Em outras palavras, o ser humano é chamado a imitar Jesus, cuja vida é pura caridade .
1-PALLOTTI, Vicente. Deus, o amor infinito. Santa Maria: Biblos, 2002, p. 63.
2-Ibidem, p. 64.
3-(OOCC XIII, 485). Deus, o amor infinito, op. cit., p. 65.
4-Deus, o amor infinito, op. cit., p. 66.
5-Ibidem, p. 66.
6-Ibidem, p. 66.
7-Ibidem, p. 130-131.
8-Ibidem, p. 80.
9-Ibidem, p. 67.
10-Ibidem, p. 131-132.
11-Ibidem, p. 26.
12-Ibidem, p. 27.
13-Ibidem, p. 27.
14-Ibidem, p. 29-30.
15-Ibidem, p. 30.
16-Ibidem, p. 34.
FONTE: PROVÍNCIA SÃO PAULO APÓSTOLO (PADRES E IRMÃOS PALOTINOS) www.palotinos.com.br
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